O vocalista da banda U2, Bono, foi criticado neste domingo (13) porque teria apoiado uma música que incentiva a morte de fazendeiros brancos na África do Sul. Bono comparou a música às canções que apoiavam o IRA (Exército Republicano Irlandês), dizendo que elas tiveram sua importância.
"Kill de Boer, Kill the Farmer" (“mate os bôeres, mate os fazendeiros”, em português) é uma música antiga, cantada nos tempos da luta contra o apartheid, que deve ser proibida no país pois autoridades consideraram que ela pode incitar o ódio racial.
"Bôer" significa fazendeiro no idioma africâner, usado por descendentes de holandeses na África do Sul, mas a palavra muitas vezes é usada como sinônimo de branco entre a comunidade negra do país.
Discurso de ódio
Após a declaração de Bono, muitos sul-africanos disseram que, em protesto, rasgaram seus ingressos para os shows que o U2 vai fazer no país. “Esse é um discurso de ódio. Eles não conhecem a nossa história”, disse um sul-africano, que participou de um programa na rádio local.
Em uma entrevista para o jornal sul-africano "Sunday Times", Bono comparou a música a outras canções ligadas ao IRA. “Quando eu era criança, eu cantava músicas que ouvia meus tios cantarem. Canções rebeldes sobre o início do IRA”.
“Cantávamos essas músicas e pode-se dizer eram canções folclóricas”, afirmou, acrescentando que esse tipo de música não deve ser cantado no contexto errado. “É uma questão de onde e quando essas músicas são cantadas".
Segundo o analista de questões africanas da BBC Martin Plaut, Bono aparentemente não tinha noção da polêmica que envolve essa canção no país. A Suprema Corte sul-africana está atualmente considerando se a música deve ser proibida, por violar o direito dos brancos.
Há pouco menos de um ano, após o assassinato do líder do movimento segregacionista branco Eugene Terreblanche, muitos acusaram o jovem líder político Julius Malema, do governista CNA (Congresso Nacional Africano), de incitar o crime por cantar "Kill de Boer". Em seguida, a Justiça o proibiu Malema de cantar a canção.
Desde o fim do apartheid em 1994, mais de 3.000 fazendeiros foram mortos no país. Uma comissão determinou em 2003 que apenas 2% desses ataques tinham motivação política ou racial. Críticos afirmam, porém, que a estimativa não condiz com a realidade.
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